Autismo: Da Visão Baseada em Déficits ao Paradigma da Neurodiversidade

ASSISTÊNCIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
    05 de dezembro de 2025

Como a compreensão do TEA evoluiu da abordagem médica tradicional para uma visão inclusiva, integrativa e centrada na pessoa

 

A Prefeitura do Município de Leme, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social e do Centro de Atendimento da Pessoa com Autismo , dá continuidade à série de conteúdos informativos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nesta edição, o tema abordado é a transformação dos paradigmas que definiram — e ainda definem — a maneira como o autismo é compreendido ao longo da história.

Durante décadas, a interpretação do autismo esteve restrita ao campo psiquiátrico, centrada na identificação de déficits sociais, comunicativos e comportamentais. As descrições clássicas de Leo Kanner e Hans Asperger, ainda na década de 1940, sustentaram a base do diagnóstico por muitos anos. Contudo, foi apenas em 1981, com o trabalho da psiquiatra Lorna Wing, que essas duas visões foram unificadas, originando o conceito de espectro — uma ampla gama de manifestações e necessidades compartilhadas por pessoas autistas.

 

Avanços e mudanças na compreensão científica

Pesquisas conduzidas por Lorna Wing e Judith Gould nas décadas de 1970 e 1980 ampliaram os critérios diagnósticos e favoreceram a identificação de mais indivíduos dentro do espectro. Paralelamente, obras como o filme Rain Man (1988) e o livro Emergence: Labeled Autistic (1986), de Temple Grandin, ajudaram a disseminar informações sobre o tema, ainda que trazendo consigo estereótipos que perduram até hoje.

Ao longo dos anos 1980 e 1990, o autismo começou a ser classificado como um transtorno do desenvolvimento — visão que, embora importante para organizar políticas e serviços, enfatizava os déficits e desconsiderava fatores biológicos relevantes. Questões frequentemente relatadas por pessoas autistas e seus cuidadores, como desconfortos gastrointestinais, desregulações imunológicas e alterações metabólicas, eram pouco valorizadas na prática clínica.

O interesse científico crescente — e, posteriormente, estudos mais robustos — permitiram compreender que o autismo envolve interações complexas entre fatores genéticos, neurológicos, imunológicos e metabólicos. No Brasil, centros como o Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Autismo (NEPA/UFF) reforçam essa abordagem integrativa, unindo profissionais de diferentes áreas em investigações sobre TEA.

 

Superando o paradigma centrado em déficits

 

Durante muito tempo, o autismo foi tratado como algo a ser corrigido, priorizando intervenções focadas na normalização do comportamento. Esse modelo gerou práticas como:

- busca por “cura” ou extinção de características autistas;

- intervenções intensivas que ignoravam particularidades individuais;

- foco exclusivo em déficits, sem valorização de potencialidades.

 

Com o avanço científico e a atuação do movimento autista, esse paradigma passou a ser questionado. O reconhecimento de comorbidades gastrointestinais, imunológicas e alimentares, por exemplo, ampliou a compreensão clínica e reforçou a necessidade de olhar para o indivíduo como um todo.

 

O surgimento da neurodiversidade

A virada conceitual ganhou força a partir dos anos 2000 com o movimento da neurodiversidade, termo cunhado pela socióloga autista Judy Singer em 1998. Essa perspectiva propõe que diferenças neurológicas — como TEA, TDAH e dislexia — são parte natural da variação humana.

 

O novo paradigma defende:

- aceitação e não normalização;

- respeito às formas diversas de ser, comunicar e perceber o mundo;

- participação ativa de pessoas autistas em debates, políticas e pesquisas;

- foco em autonomia, qualidade de vida e inclusão social;

- adaptação do ambiente, e não da pessoa autista ao ambiente.

 

Termos como orgulho autista, autoaceitação e representatividade tornaram-se cada vez mais comuns, fortalecendo o protagonismo das pessoas autistas e combatendo estigmas históricos.

 

Autismo: uma compreensão mais ampla, humana e integrada

Hoje, sabe-se que o autismo não é apenas um conjunto de dificuldades sociais ou comportamentais, mas um modo singular de funcionamento neurológico. O conhecimento atual integra fatores biológicos e subjetivos, reconhece comorbidades e valoriza a diversidade humana. Essa mudança de paradigma influencia diretamente as políticas públicas, práticas clínicas, ações educativas e iniciativas de inclusão.

Informações adicionais podem ser obtidas na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, localizada na Rua Cel. João Franco Mourão, 308 – Centro, telefone 3097-1068, ou diretamente no Centro de Atendimento da Pessoa com Autismo, na Rua Luiz Da Roz, 825 – Centro, telefone (19) 3097-1053..

 

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE LEME

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